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O Blogue da Mafalda

Somos todos normais, até termos filhos! | Por Ana Fagundes Lourenço

O Blogue da Mafalda

Somos todos normais, até termos filhos! | Por Ana Fagundes Lourenço

Vamos falar sobre partos? O meu foi assim.

19.10.16, Ana Fagundes Lourenço

Na manhã de 25 de Julho fui ao Hospital de Santo Espírito da Ilha Terceira (HSEIT) para consulta e CTG. Estava grávida de 38 semanas e 3 dias. O CTG não acusou nada, o que me deixou desanimada. Estava saturada da gravidez: Tinha mais 23Kg no lombo, estava inchada, não dormia bem há demasiado tempo e estava ansiosa por conhecer a jovem que tanto gostava de pontapear as minhas costelas. 

A obstetra disse que, se não nascesse entretanto, o parto seria provocado na semana seguinte. Aproveitei para acertar pormenores com ela, não permitiria em caso algum o uso de forceps. Ventosa só mesmo em último caso. A dr.ª anotou tudo no meu processo e garantiu-me que a minha vontade seria respeitada. Quem disse que não há qualidade no Serviço Regional de Saúde? 

Terminada a consulta, fui almoçar com o meu marido ao restaurante chinês. Afinal de contas a bebé estava quase a nascer e depois do parto não teria disponibilidade para almoços fora. Comi como uma labrega - com barriga é muito difícil sentarmo-nos junto à mesa e a comida teima em atirar-se para o chão - e fomos à nossa vida. 

Estava deitada na minha cama a descansar quando senti uma espécie de estalo dentro de mim. "Oh Mafalda, estás cada dia mais bruta" disse, desvalorizando a coisa. Entretanto os gritos dos meus sobrinhos obrigaram-me a sair da cama e eis que...aguinha nas calças! Pedi ao meu sobrinho D. que chamasse o meu marido. Duas cabeças pensam melhor do que uma e a verdade é que estava tão assoberbada que não tinha a certeza se era ruptura de bolsa ou não. 

Depois de concluirmos que estava na hora de ir para o hospital, achei que devia tomar um duche. É verdade que durante o parto vamos ficar mais sujas do que já estamos, mas o duche dá-nos um certo conforto e todas sabemos que é na banheira que pensamos melhor sobre tudo.

Fui para o hospital por volta das 15h30. Depois de fazerem dois testes, acreditaram que era líquido amniótico e não urina. Parece que as mulheres na Terceira vão muita vez para o hospital com xixi nas cuecas. 

Dada a minha condição (ruptura da bolsa mas sem ter entrado em trabalho de parto) a médica decidiu internar-me no serviço de Ginecologia/Obstetrícia. Fui para a ala das não paridas, onde fiquei até às 23h e qualquer coisa. 

 

Do meu curto internamento quero salientar:

  • O cúmulo da decadência é teres de pedir uma arrastadeira para urinares e teres uma mulher que não conheces de lado nenhum a limpar-te;
  • As contracções começaram por volta das 21h. Disseram-me que as contracções eram na barriga toda e por isso o que eu estava a sentir era uma "moínha". Afinal de contas sou bastante resistente;
  • Como a "moínha" não passava, chamei a enfermeira que ficou apavorada ao constatar que já tinha metade da dilatação feita.

Lá fui eu de maca para o SO. Torcía-me mais do que aquelas contorcionistas chinesas. Quando questionada sobre a epidural, respondi logo que sim. Oh filha, já vem com duas horas de atraso, mas antes tarde do que nunca.

Contorcionista.jpg

                         Eu com a dita moínha

 

Do tempo passado no SO, sala de monitorização e bloco de partos vale a pena realçar:

  • Aquelas pessoas gostam muito de fazer toques. Foram cerca de 255 por hora. O único que valeu a pena foi o que a médica fez para decidir quem seria a primeira contemplada com epidural. Ganhei, claro!
  • O telemóvel é como um imigrante ilegal: Pode estar contigo, desde que a enfermeira R. não o veja. Fui apanhada a mandar sms ao homem e fiquei sem ele.
  • A epidural é uma fraude: Prometem-te o mundo e depois tens de te contentar com uma aldeia. Ajudou bastante com as contracções, mas aconteceu uma coisa estranha: Não sentia as pernas, mas a zona pélvica...Ai sentia sentia!
  • Há limite para a dor que uma pessoa consegue suportar. Durante o parto ultrapassas esse limite.
  • Nunca tratei tanta gente por "tu" na minha vida. "Olha lá, isto não era suposto tirar dores?!", "Diz à enfermeira para tirar a mão dali" são apenas dois exemplos.
  • Sou histérica como tudo. Grito com dor, grito para fazer força, grito porque estão a irritar-me com conversas da treta quando estou exausta...Tudo é motivo para gritar um pouco. 

parto_2.jpg

                Dizem que gritar faz bem aos pulmões

 

  • A Mafalda nasceu às 03h31 do dia 26 de Julho de 2016;
  • Não fizeram episiotomia - zero pontos baby!
  • Estive sempre preocupada com a recolha do sangue e tecido do cordão umbilical. Sou muito focada!
  • Depois do parto comecei a tremer como se tivesse Parkinson. Terá sido por causa da anestesia?
  • Tive um excelente acompanhamento: Pediatra para observar a bebé logo após o nascimento, equipa de obstetrícia e equipa de anestesia.

Sou testemunha do serviço de excelência que o HSEIT presta às grávidas e parturientes. 

Obrigada!

 

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