Pari outra vez. E foi duro...
Se o primeiro parto foi difícil, este ultrapassou todos os limites!
Olá!
Estou de volta, quer dizer...mais ou menos! É que uma pessoa começa a escrever, mas nunca sabe se chega ao fim, porque a mais recente aquisição da família grita quando menos se espera.
E pronto, como o título sugere, pari outra vez. Mais uma menina, de seu nome Frederica. E nasceu quando? Dia 9 de Maio, dia da Europa, que aqui não se faz por menos.
Pois bem, estava eu já enorme e fartinha de estar grávida (começa a ser hábito) quando decidi começar a fazer caminhadas para expulsar a inquilina daqui de dentro. Na noite de 8 comecei com contracções - pelo menos pensei - que duraram toda a noite. Eram irregulares e toleráveis, embora chatinhas. Na manhã de 9, bora lá para mais uma consulta!
Estava grávida de 40s e 4d, numa gravidez que desde o início se previa de curta duração, devido a antecedentes clínicos. Ó inocência!
Mas bem, na consulta de enfermagem avisei a enfermeira das contracções e ela encaminhou-me para o CTG que, as usual, não detectou grande coisa. A médica, ao examinar o dito, avisou-me que não estava para breve, pelo que na quinta-feira devia apresentar-me na urgência de obstetrícia para me provocarem o parto. Saí mais deprimida que uma daquelas canções alusivas aos movimentos migratórios...
Já em casa, ao almoço, comecei a ver a vida a andar para trás com as dores das contracções. Terminei a refeição, tomei um duche (continuo sem perceber a lógica, mas a pessoa manda-se logo para o duche) e fomos para o hospital. Fui examinada e a médica decidiu que já ficava lá. Com que então, senhora doutora, não estava para breve? Assim também eu sou médica! Mas não se preocupe, está perdoada.
Após examinada, tocada e testada para covid, sabia que dali não saía sem a batatinha doce nos meus braços. Mas a coisa estava para demorar, por isso avisei o homem para ir para casa com a nossa mais velha, que o hospital tem demasiado bicho para se andar para lá com uma criança. E o homem lá foi, que não se contraria uma mulher em trabalho de parto.
Reparei que o hospital da ilha Terceira mudou muito de 2016 para cá: Agora dão às grávidas uma bola de pilates para fazerem uns movimentos nada sensuais enquanto ganem de dores. Foi interessante, mas não me ajeitei muito com aquilo.
Pedi epidural, de forma cordial mas assertiva. Viria a recebê-la, para aí 2 horas depois. A dr.ª queria conversar e eu queria que ela me drogasse o quanto antes. Arrependi-me quando senti a agulha a bater...no osso. Logo de seguida senti uns "choques" na perna direita e, quando questionei a enfermeira do motivo, fui informada de que "a dr.ª trincou o nervo". Quando me perguntou "sente um fresquinho nas costas?" percebi que a coisa não estava famosa e que, portanto, estava condenada a um parto doloroso. Dito e certo.
Pediram-me para me levantar e ir até à casa de banho. Fi-lo sem qualquer dificuldade, o que reforçou a tese de que não estava anestesiada. Porra!
Porra mesmo porque, naquele momento, senti a rapariga descer e vi lume em São Jorge! Levaram-me à pressa para o bloco de partos, não havia tempo a perder!
Enquanto lá estava com uma enfermeira a dizer-me que tinha de fazer força, quando tudo o que queria era fugir, uma funcionária do hospital estava destacada para me pôr água na testa. Isso mesmo, aguinha na testa. A pessoa tem dores (ao ponto de se sentir mal) e ainda tem de ficar com a cara molhada, sem qualquer fundamento científico.
Pedi várias vezes à enfermeira Mafalda (nome bonito esse) para me dar drogas. A rapariga estava cheia de pena de mim, mas as orientações eram no sentido de me darem medicação caso levasse pontos. Pontos?!
Sem drogas e com água na testa, não me restava alternativa senão fazer o trabalho todo sozinha e com dores. Numa sala com mais povo que a rua de São João em plenas Sanjoaninas, o cenário parecia uma obra da Câmara Municipal: Um a trabalhar e o resto a ver e a mandar palpite.
Estaria a mentir se dissesse que foi um parto demorado. Nada disso. Devo ter feito força para aí umas 3 vezes. À terceira foi de vez e foi para acabar com o sofrimento.
Às 18h15 nasceu a minha batatinha doce, com 3.640Kg e 49cm. Ali, forte bezerro! Assim que a colocaram no meu colo fez um belo xixi em cima de mim e eu pensei "só me envergonha, esta criança", mas limitei-me a chorar. Se de alegria, de alívio ou apenas por desequilíbrio hormonal, não sei, mas também agora não interessa! Liguei de imediato ao pai da criança que ficou chocado por já ter nascido, quando eu tinha estimado para o final da noite / madrugada. Ainda não percebeu que as mulheres são assim: lembram-se e resolvem as coisas num instante!
A caminho dos dois meses, a Frederica ainda não percebeu que de noite se dorme e não se grita. Mas ela vai chegar lá, tenho fé.
A Mafalda está encantada com a bebé e super empenhada no papel de irmã mais velha. Tão empenhada que outro dia cheguei ao quarto e estava com a Frederica ao colo, o que me deixou a beirar o enfarte. ADORA a irmã, mas ressentiu-se com a sua chegada e começou com chamadas de atenção. Já entendeu que se trata de uma fase e que continua a ser a menina dos nossos olhos, por isso sossegou.
Quem diz que o pior é o primeiro, que o segundo se cria sozinho, não percebe nada do assunto. Ainda estamos assoberbados com a nossa nova realidade e tudo à nossa volta é caos. Vamo-nos safando conforme podemos.
E agora cá estou, em casa com a pisca. A namorá-la bastante e a aproveitar, que isto passa num instante. É que ainda ontem tive a minha primeira filha e ela já está prestes a entrar na escola primária.