O dia em que percebemos que a nossa filha era vítima de bullying
Acima de tudo, temos de estar SEMPRE atentos
No início do ano lectivo 2021/2022 a Mafalda mudou de colégio. Deixou o seu grupo de amigos, as educadoras de que tanto gostava e teve de se adaptar a uma nova realidade.
Felizmente, e sei que sou suspeita, a Mafalda é uma menina dócil, embora tímida, empática e muito bem comportada. Sim, tem as suas coisas e os seus dias, afinal não é um peixe nem nada que se lhe pareça, mas pelo que vejo - e acreditando no que as educadoras me dizem - é muito bem comportada.
Ora, com essas características e a entrar em território alheio, sabíamos que a coisa ou corria muito bem, ou corria muito mal.
Entretanto engravidei e, por ser gravidez de risco, tive de ir para casa bastante cedo. E isso ajudo, porque tive a miúda em casa 2 meses a gritar que não queria ir para a escola.
Mas voltando ao bullying.
Comecei a reparar que SEMPRE que ia buscar a minha filha, uma outra menina abordava-a com conversas... estranhas. Pensei que a rapariga estivesse a tentar uma aproximação, o que seria simpático da parte dela, por isso desvalorizei, embora tenham surgido conversas pouco adequadas à idade e que tornavam as interacções um pouco confrangedoras.
Também é de referir que, por ser de outra sala, embora tenham a mesma idade, o relacionamento entre ambas estava restrito à hora de almoço e ao recreio de tarde.
Mas os comportamentos pioraram.
Por altura da organização do 6º aniversário da Mafalda, fizemos uma lista de convidados (todos escolhidos pela Mafi) e pedimos às educadoras para deixar lá os convites, uma vez que não tínhamos como chegar aos pais dos meninos. Obviamente, essa menina não foi convidada. Na altura a justificação foi "ela é má", pelo que nem discutimos a questão.
Ora, a miúda ao ver os meninos levarem convites para casa e ao aperceber-se de que não havia um para ela, teve a brilhante ideia de tentar convencer os outros meninos a não irem ao aniversário da Mafalda. Quando penso que estamos a falar de uma miúda de 5 ou 6 anos, fico deveras assustada com os níveis de malvadez que ela já tem dentro de si.
Felizmente ninguém lhe passou cartão e foi uma festa muito simpática, com crianças aos saltos e aos gritos, como se quer. Este ano foi mais pacato, por força das circunstâncias, mas a miúda ADOROU. Ainda mais por o tema ter sido o Super Mário!
Regressou ao colégio após as férias e o mal-estar continuou. Se estavam a almoçar e a Mafalda falava (sim, eu sei que ela ADORA conversar, até porque não é muda) a irmã da criaturinha mandava-a calar. Sempre a melindrá-la. E sabem como é: Se te acobardas uma vez, estás lixada! Infelizmente a minha filha nunca reagiu.
Uma tarde vou buscá-la ao colégio e eis que a encontro cabisbaixa e verdadeiramente triste. Perguntei o que se passava e recebi como resposta "conto-te no carro". Contou. E fiquei com o coração partido. A Mafi estava a preparar-me uma surpresa (um bolo, que devia ser de terra ou qualquer coisa do género), apareceu a irmã da criaturinha e...desfez o bolo. Sem motivo, apenas por maldade. Fui nesse dia até casa a ouvir o choro de uma criança enquanto dizia "Eu dei o meu melhor". Se soubessem a raiva com que fiquei...
A gota de água foi há relativamente pouco tempo quando fui buscar a minha filha e encontro-a sentada, triste, desmotivada. A criaturinha, que tem de dominar as brincadeiras todas, dispõe de todos como se fossem seus empregados, achou que devia ofender a Mafalda chamando-a de totó e deficiente. Quando se isolou, porque é isso que a minha filha faz quando se sente atacada, a rapariga começou "vamos chamar a Mafalda de princesa para ela não ficar triste". Assim, dedinho na ferida.
Normalmente não ligo a desacatos no colégio. Sei que é uma selva, que os miúdos ora brincam ora andam à pancada. Aliás, soube de um menino que empurrou a minha filha, ela respondeu e o assunto ficou resolvido. Mas estamos aqui a falar de episódios que se repetem quase que diariamente. Sim, porque eu resumi muito esta história e ocultei conversas que chegam a ser graves. Como sei que são verdade? Porque as ouvi.
Perante isto e muito mais, achámos que estava na hora de tomar uma atitude. O pai foi ao colégio e foi bem claro quando exigiu que essa miúda nunca mais se chegasse para a Mafalda e a nossa filha foi avisada - na frente dela - que não voltavam a brincar juntas e que qualquer abordagem devia ser-nos comunicada de imediato.
Já passou uma semana e as coisas estão mais calmas. Já outra menina se queixou das abordagens pouco simpáticas da dita cuja, mas a verdade é que a Mafalda tem estado mais feliz no colégio. E isso vê-se na sua expressão.
Eu sei que isto não é o fim do mundo, nem fica por aqui. Haverá dias bons e menos bons. Estão em crescimento e a estabelecer relações com os pares. Estão a formar os seus grupos de amigos, e ainda bem que assim é. Hoje tem uma melhor amiga, daqui a uns anos não sei como será essa amizade. Mas tudo o que ultrapassa o limite do razoável deve ser resolvido de imediato.