Aproveitem os vossos filhos
É que o tempo não passa depressa, ele voa!
Ninguém nos prepara para isto, ninguém. Engravidamos e ouvimos aquela conversa sobre o estado de graça e purpurinas e afins. Esquecem-se dos (muitos) quilos a mais, dos pés inchados, das alterações de humor e das noites mal dormidas.
Sobrevives à gravidez. O último mês tem 390 dias e, mesmo sabendo que vais ter dores, ficas feliz quando entras em trabalho de parto. Nasce a criança e ficas numa espécie de primeiro amor, aquele que nunca se esquece! Depois vem a vida e dá-te um estalo na tromba: Medo, ansiedade, noites mal dormidas (ando nisto há 3 anos), cansaço acumulado e muito mau humor.
Passas alguns meses em casa com o rebento e quase desesperas: Quem pensa que estar em casa com um bebé é fácil, não sabe do que fala. O simples facto de estares todo o dia a limpar rabos, a dar biberão e a tentar um diálogo com um ser que não faz nada além de berrar, comer e dormir é muito MUITO complicado. Quando dava um saltinho fora de casa para ver pessoas da minha idade e ouvia "aproveita que a boa vida está quase a acabar" só me apetecia espetar um pontapé na cara da pessoa! Atenção, nunca cheguei a concretizar.
Mais uma vez vem a vida ensinar-te que isto não dura para sempre e, quando reparas, estás de volta ao trabalho. Das duas uma: Ou tens a sorte de deixar a tua filha aos cuidados de alguém em quem confias (um familiar, por exemplo), ou tens de aprender a confiar numa outra pessoa. Foi o nosso caso. Regressas ao trabalho com um sentimento agridoce: Por um lado, queres recuperar um pouco da tua essência - e quer queiramos, quer não, o trabalho é uma parte importante de nós - por outro ficas com o coração nas mãos e essa preocupação constante obriga-te a fazer um esforço hercúleo para seres minimamente eficiente num trabalho que antes fazias com uma perna às costas.
E tentas equilibrar as coisas: O trabalho, os filhos, o marido, os hobbies e dás em desespero. É muito fácil dizer que a mulher não morre com o nascimento do filho, mas executar é um bocadinho mais complicado, não é? É que o tempo não passa depressa, ele voa! E quando dás por ti, já passaram vários anos.
Já disse várias vezes que lamento não ter ficado mais tempo com a Mafalda. Fiquei aqueles 4 meses de licença de maternidade e depois regressei (o mês seguinte ficou para o pai integrá-la na ama). Foram vários os motivos, mas hoje percebo que nenhum deles era realmente válido. Fiz asneira, estou aqui para dar o corpo às balas.
Dizem que os conselhos não seriam gratuitos se realmente fossem bons. Mas dou o meu na mesma: Aproveita o teu filho! O tempo voa, os miúdos crescem depressa e nós temos de estar aqui para eles. Quanto ao teu trabalho, não te preocupes: Se morreres, substituem-te no dia seguinte.