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O Blogue da Mafalda

Somos todos normais, até termos filhos! | Por Ana Fagundes Lourenço

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Somos todos normais, até termos filhos! | Por Ana Fagundes Lourenço

Movimento "Deixem-nos subir" - Escorrega

Fará assim tanta diferença no desenvolvimento da criança?

30.06.20, Ana Fagundes Lourenço

Vi no Facebook uma publicação sobre um movimento #Deixemnossubir que, de uma forma muito simplista, defende que as crianças devem poder subir o escorrega...pela rampa.

Quero deixar claro que este post não é uma crítica às promotoras deste movimento. Sou grande defensora da liberdade individual e cada um faz o que quer com o seu tempo livre, mesmo que seja demasiado. Agora que esclareci, vamos lá analisar o movimento per si.

Eu gostava que os pais deixassem de ser bipolares. A sério que sim. Se por um lado criticamos as crianças que crescem sem regras, por outro encontramos estas publicações nas redes sociais que defendem atitudes que vão contra as regras. É no mínimo estranho.

O texto critica a opressão por parte do adulto, que castra as crianças física e emocionalmente. E diz que isso interfere directamente na aquisição de competências. Fico com a sensação de que se a minha Mafalda subisse o escorrega pela rampa não precisaria frequentar a escola, pois as competências estariam todas adquiridas. Não acho, de forma alguma, que castre a minha filha ao pedir-lhe que actue conforme as regras.

São vários os comentários à publicação. Uns a favor, que dizem ter os filhos mais felizes do mundo por poderem subir a rampa. Outros a explicar que isto é tudo muito bonito até ao dia em que se esbardalham e fracturam a tíbia. É uma batalha de argumentos, cada um escolhe o lado que lhe parecer melhor.

Neste caso em concreto não poderia estar mais em desacordo. Os pais que querem ter filhos a subirem pela rampa são livres de o permitir: Num escorrega próprio, nas suas habitações. Atenção, não existe nenhuma lei a proibir, mas sim regras de convivência nos parques infantis. E quer queiram, quer não, essas regras têm de ser respeitadas. 

Isto faz-me lembrar um episódio ocorrido num parque. Eu estava com a minha filha no baloiço e, no momento em que ela sai para me dizer qualquer coisa, um rapazinho surge do nada e senta-se no baloiço que nós estávamos a usar. A avó do puto ainda o chamou, mas ele não quis saber. Naquela cabecinha nada habituada a regras era a vez dele. Retirei-me com a minha filha e naquele momento ensinei-lhe que o mundo é injusto e que os palermas estão por todo o lado.

E depois temos uma questão, não menos importante, que é a higiene. Nenhuma criança tem de deslizar no percurso onde estiveram pés alheios. Numa altura em que tanto se fala de higienização, simplesmente não faz sentido. E sim, eu sei que os parques não são propriamente o lugar mais limpo do mundo, mas isso só reforça a minha ideia: Já tem badalhoquice suficiente, não precisa a criança sentar nos resquícios de porcaria que vêm nos sapatos. Ou a ideia é ter lá alguém a desinfectar a rampa sempre que uma criança passar? Não me parece que faça muito sentido. Prefiro seguir as regras.

É disso que se trata, regras.

Repito: Isto não é uma crítica às promotoras, mas à ideia em si.

Ensinemos os nossos filhos a divertirem-se com responsabilidade, respeito pelos outros e pelas regras e, em princípio, nenhuma criança ficará traumatizada.

Reabertura da Região Autónoma dos Açores

Era um covid para a mesa do canto, se faz favor!

22.06.20, Ana Fagundes Lourenço

Estivemos até há pouco tempo isolados do mundo.
Perante a recusa do Governo da República em cortar as ligações da TAP para os Açores, o Governo Regional decidiu - e muito bem! - suspender a operação da SATA. Assim, os passageiros chegariam pela TAP apenas às ilhas de São Miguel e Terceira, ficando impedidos de circular inter-ilhas. 

Foi a forma possível de proteger os açorianos e nós agradecemos.

Entendo, porém, que tenha sido muito complicado para quem tinha filhos a estudar no continente. Os estudantes acederam ao pedido do Governo Regional e ficaram lá, pelo que logo que possível deviam ter sido "resgatados". Mas tratava-se de uma situação nova, desconhecida, e quero acreditar que o GRA agiu de boa-fé.

Até hoje estive mais ou menos segura. Ainda que adoptando as medidas de protecção sugeridas pelas autoridades de saúde, consegui retomar a minha vida normal, seja lá o que isso for actualmente. A Mafalda regressou ao colégio e eu ao trabalho. Evitamos deslocações a lugares com muitas pessoas e viagens nem pensar!

Como eu, agiram milhares de açorianos. E merecíamos continuar a viver com alguma tranquilidade. Esta região não tem capacidade para responder a uma pandemia. Lamento, mas não tem. São poucos os hospitais e os meios também não são em abundância. É a nossa realidade e, por isso, o mais seguro era fechar a porta.

Hoje recomeçaram os voos Lisboa-Pico e chegaram 150 pessoas a esta ilha. Percebo que os empresários das áreas do turismo e restauração estejam felizes com esta reabertura. Os negócios ressentiram-se e há que recuperar o mais rápido possível. Mas esquecem-se que quando isto der para o torto, ficarão novamente sem clientela. Mas isto são outros quinhentos.

Podíamos ter sido mais cautelosos. Podíamos ter permitido o regresso dos estudantes e residentes da região. Os restantes aguardavam. Com a região segura em termos de covid-19, o Governo podia apostar na promoção do turismo interno, nem que fosse através da redução das tarifas da SATA. Estaríamos isolados, mas com a nossa economia interna a funcionar. Poderíamos realizar as nossas festas que promovem a circulação de pessoas e bens entre as ilhas e que contribuem para a economia da região. Podíamos ser livres, ainda que não plenamente, mas mais livres do que seremos a partir de hoje.

Hoje chegaram passageiros oriundos de vários pontos. Hoje, volto a ter receio de sair à rua. Foram testados, mas duvido que todos aguardem o resultado em isolamento. Desculpem, mas considerando as notícias de festas e ajuntamentos, perdi a fé nas pessoas. Se inicialmente andávamos todos com medo, agora muitos baixaram a guarda e o resultado está à vista.

Enquanto açoriana, trabalhadora e mãe de uma criança de 3 anos, espero que isto corra bem e que esta reabertura não nos prejudique seriamente. Espero, mas tenho dúvidas.

 

Nota: Para mais informações, consulte https://covid19.azores.gov.pt/

Sanjoaninas 2020

Estou tão, mas tão triste.

19.06.20, Ana Fagundes Lourenço

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Não fosse o covid e hoje estaríamos nas Sanjoaninas.

Para quem não conhece, as Sanjoaninas são as festas da cidade de Angra do Heroísmo, em homenagem a São João, e duram cerca de 10 dias. Durante esse período, os angrenses festejam e a cidade enche-se de música, cor, sabores, cheiros e alegria. Muita alegria.

Não é por acaso que dizem que a ilha Terceira é o parque de diversões dos Açores. Gostamos de festa, vivemo-la intensamente! Caraças, que somos mesmo bons nisso!

Hoje não vamos festejar São João. Não vamos comprar a t-shirt alusiva à celebração, como fazemos anualmente. Não vamos às tascas espalhadas pela cidade comer um petisco, nem vamos cantarolar enquanto passeamos pelas ruas. Não vamos ouvir em modo repeat "Marcha que me deixa, sempre mais feliz" nem "E vou para a festa, olé!". Não vamos. 

Nas últimas horas foram vários os amigos a partilhar lamentos semelhantes ao meu nas redes sociais. Estamos a viver algo nunca antes vivido pela minha geração!

E sim, eu sei que pode parecer um pouco egoísta pensar em festividades quando o país atravessa uma crise gravíssima, com cada vez mais casos de coronavírus. Eu sei. Mas também sei que é legítimo ficar triste. E eu estou, assim como todos os angrenses.

Se sobrevivermos a isto, para o ano festejamos em grande. A primeira rodada é por minha conta!