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O Blogue da Mafalda

Somos todos normais, até termos filhos! | Por Ana Fagundes Lourenço

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Somos todos normais, até termos filhos! | Por Ana Fagundes Lourenço

Reflexões em Isolamento Social #1

24.03.20, Ana Fagundes Lourenço

Estamos em isolamento social há mais de uma semana.
As saídas de casa resumem-se a ir ao quintal e aos pastos onde estão as vacas. Zero interacções com terceiros, que se isto não estava para brincadeiras, agora com um caso positivo no Pico ainda está menos.

Neste período de isolamento, destaco um ponto positivo e um negativo. São eles:

- Ponto Positivo: @FestivalEuFicoEmCasa
De 17 a 22 de Março, 78 artistas proporcionaram aos portugueses (e não só, obviamente) várias horas de música a título gratuito. Qualquer utilizador da rede social Instagram teve a oportunidade de ver estas  actuações no conforto do seu lar. Tive a oportunidade de ouvir a Luísa Sobral cantar "o João" enquanto dava banho à minha filha. Ela gostou, eu cantei como se não houvesse amanhã!
É preciso notar que neste período difícil que atravessamos, muitos portugueses estão completamente isolados, pelo que esta iniciativa é uma lufada de ar fresco! Além disso, estes artistas deram a bela chapadinha de luva branca a todos os que menosprezam a cultura em Portugal. É verdade que não comemos cultura, não pagamos contas nem atestamos o depósito do carro com cultura, mas em plena pandemia consumimos cultura: Filmes, música, livros. Portanto, quando tudo isto terminar, e pudermos regressar à normalidade, gostava MUITO que os portugueses começassem a olhar para os artistas com outros olhos.

 

Ponto Negativo: A Banca
Este ponto não tem qualquer conotação política/ideológica. Não estou ligada nem filiada em nenhum partido; falo apenas na condição de cidadã e contribuinte.

Começo por dizer que a relação dos portugueses com a banca é como aqueles casais em que um dá tudo e o outro só não manda à merda porque fica mal.
Sempre que os bancos precisaram, os portugueses ajudaram. É insofismável. Contribuímos para bancos que se viram gregos, muitas vezes, por má gestão. Mas era preciso, e por isso o Estado (que somos todos nós) chegou-se à frente. 
Agora são os portugueses a precisar. Impedidos de trabalhar, quer por conta própria, quer por conta de outrem, os cidadãos sofrerão uma diminuição dos seus rendimentos, por motivos que lhes são alheios. Ninguém em Portugal é responsável pelo COVID-19! 
Mas o que fazem os bancos para ajudar? 
Pelo que li, alguns bancos apresentaram medidas de apoio às famílias, nomeadamente períodos de carência nos créditos habitação, aliviando de forma considerável o sofrimento de muitos.
Por outro lado, temos bancos que até à data apresentaram medidas tão absurdas como aumento de plafond e do limite do cartão de crédito. Ou seja, numa situação de aperto, estes bancos incentivam a um maior endividamento. Medidas como estas só mostram que, infelizmente, temos bancos que não merecem ter as portas abertas, principalmente se precisarem de injecções de capital.
Não se está aqui a pedir para fazerem caridade. Trata-se de uma questão de decência e tenho a certeza que quando tudo isto terminar, muitos portugueses optarão por mudar de banco.

Termino este post com um apelo: Por favor, fiquem em casa. O isolamento social pode salvar vidas.

Abraço a todos!

Coronavírus

Não sei o que nos espera, mas pela primeira vez sinto medo.

17.03.20, Ana Fagundes Lourenço

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O COVID-19 chegou aos Açores. 

Foi com um nó na garganta que li o comunicado do GACS do Governo Regional dos Açores a dar conta do resultado positivo de uma jovem de 29 que achou boa ideia ir para a ilha Terceira (a minha) depois de um passeio por Amesterdão e Felgueiras.

E de repente este arquipélago deixou de ser um pequeno paraíso: Estamos em estado de contingência, as escolas estão encerradas, assim como a maioria dos serviços. As entradas nos supermercados são controladas e os produtos disponíveis são escassos.

E o que me deixa frustrada é que tudo isto podia ter sido evitado. No momento em que o coronavírus chegou a Portugal, era dever dos governantes encerrar o espaço aéreo dos Açores. Não se trata de bairrismo, mas sim de clareza de raciocínio. Nos Açores apenas 3 ilhas têm hospital, as restantes têm de se orientar com centros de saúde. Dos 3 hospitais, apenas 1 dispõe de quartos com pressão negativa, que dizem ser de grande importância no tratamento do covid-19! Nem falo dos ventiladores, não vale a pena. Isto tudo para dizer que um vírus deste calibre numa região com esta escassez de recursos pode ter efeitos devastadores.
Ouvi hoje o Presidente do Governo Regional dizer que, por iniciativa do executivo açoriano, a SATA tinha concentrado toda a sua operação em São Miguel, cortando as ligações de e para a ilha Terceira. Os terceirenses estão "orgulhosamente sós" em relação às outras ilhas, mas continuam a receber voos da TAP e da Ryanair. É um absoluto disparate! Estão a brincar com a saúde das pessoas! 

Estamos em isolamento social. Saio de casa para o essencial, como é o caso das sessões de fisioterapia que por enquanto se mantêm. A minha filha está em casa comigo até o colégio reabrir e ser seguro regressar. É complicado manter uma criança longe dos amigos/coleguinhas? Claro, mas tem de ser. Expliquei-lhe que anda um bicharoco por aí que pode deixar-nos doentes. Ensinei a lavar as mãos correctamente, associando os movimentos à canção dos "parabéns". Curiosamente, aprendeu com facilidade e segue a máxima das mãos sempre limpas à risca.

Vivemos tempos complicados. Certamente tudo acabará em bem, mas até lá temos de seguir as orientações das autoridades de saúde, permanecer em casa, contactar a linha saúde em vez de correr para a urgência ao menor sintoma. Manter a calma e confiar nos profissionais. 

Cuidem-se.

 

Sobre os refugiados da Síria

05.03.20, Ana Fagundes Lourenço

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A história está cheia de momentos em que foi a Síria, considerada a joia do Médio Oriente, a acolher os outros. Em 1872, a Síria acolheu circassianos. Já no século XX, em 1915, recebeu arménios. Avancemos para 1942, quando foi a vez dos gregos. Em 1948, chegaram os palestinianos. Há 30 anos, corria o ano de 1990, foi o destino da população fugida do Koweit. Em 2003, aceitaram os iraquianos. Em 2006, tal como em 1996, admitiram os libaneses.  

 

A ideia não é fugir ao habitualmente publicado aqui, considerando que se trata de um blogue inserido em categoria familiar, mas há assuntos que devem ser abordados por todos nós. Aliás, principalmente por nós, pais.

Esta semana fica marcada como uma das mais histéricas deste país: Corremos às farmácias para comprar máscaras e desinfectantes. Foram accionados planos de contingência e a desinformação veiculada pela comunicação social só piorou a situação. E isto tudo por causa de um vírus!

Agora imaginem se estivessem em casa, com os vosso filhos, num país em guerra. Não tentariam fugir? Não fariam tudo o que estivesse ao vosso alcance para garantirem a segurança dos vossos?

Então deixem-se de tretas. Refugiados não são imigrantes ilegais. É isso que temos de ensinar às nossas crianças. E, pelos vistos, aos governantes também.